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Escrever histórias tornou-se o meu passatempo favorito. Eu gosto de acreditar que existe um leitor atento a cada gesto e a cada palavra dos personagens, porque é esse leitor quem dará vida à história quando permitir que ela comece a habitar a sua imaginação.

Essa é a magia que se esconde nos textos... Eles são portais que conduzem os sonhadores a realidades mágicas e fascinantes.

Participe dessa Doce Ventura de Tecer Sonhos!!!...

Sisi Marques

01/07/2014


TIBÉRIO E O CASTELO DE SEUS SONHOS

Para Tibério, era difícil despertar e sair da cama porque, durante o sono, os seus sonhos se mesclavam com a realidade. Tibério era uma pessoa simples. A moda e a opinião alheia não o seduziam. Ele vivia de um modo que não atraía a atenção das pessoas ao seu redor.

Tibério tinha um sonho que se assemelhava mais a um desejo secreto: quando ele saía para caminhar por entre as árvores robustas e frondosas, ele costumava parar e sentar-se nas pedras que havia nas proximidades de uma enorme clareira. Tibério passava horas admirando a inspiradora paisagem. Com os olhos perdidos entre a realidade e a sua imaginação, ele pensava: “Essa clareira é um lugar perfeito para se construir um castelo.”

Certo dia, em seu sonho, ele ouviu uma voz que parecia vir da copa de uma árvore gigantesca. Ele não conseguiu ver ninguém, mas ouviu claramente a voz que dizia: “Essas pedras, que você vê ao redor da clareira, são mágicas. Com elas, você poderá construir o castelo que sempre sonhou. Basta começar a empilhá-las... Mas preste muita atenção: as pedras têm que ser reunidas lentamente, no máximo três por dia, e a construção do castelo deverá ser mantida em segredo.” Quando Tibério acordou, levantou-se rapidamente e se dirigiu para a clareira. As pedras ao redor eram idênticas às que ele vira em seu sonho. Ele empilhou três pedras e voltou para casa. No dia seguinte, ele colocou mais três e, assim, sucessivamente.

Aos poucos, a construção tornava-se visível, e começou a chamar a atenção de curiosos. A todos que perguntavam a Tibério o que ele estava fazendo, ele respondia: “Estou amontoando as pedras na clareira apenas para sobrar mais espaço para os animaizinhos e para as carroças.” As pessoas pareciam não acreditar no que ele dizia, e continuavam cobrindo-o de perguntas. Como ele precisava acrescentar apenas três pedras diariamente, era fácil fazer o trabalho e esquivar-se.

Houve um dia em que ele duvidou que aquela montanha de pedras pudesse adquirir o formato de um castelo. Ele olhou ao redor e contemplou as três pedras restantes. Tibério perguntou-se onde encontraria mais pedras iguais àquelas... Confuso e descrente, ele apanhou as pedras. Colocou a primeira, a segunda e a terceira... Ele se afastou e ficou olhando como se esperasse que algo extraordinário acontecesse...

Cansado de tanto esperar, ele virou as costas e começou a caminhar. Mas ele retornou quando ouviu aquela mesma voz que ouvira em seu sonho dizer-lhe: “Feche os olhos e confie na sua imaginação... O serviço está terminado... Não existe mais nenhum obstáculo entre você e a realização do seu sonho... Agora, abra os olhos...”

Quando Tibério abriu os olhos e deparou-se com o castelo que imaginara, notou que não estava sozinho. Uma multidão havia se aproximado para admirar o magnífico edifício. Em tom de gracejo, ele disse enquanto entrava no castelo: “Agora, que terminei de juntar as pedras, já posso descansar. Gostaria que me desculpassem a grosseria e me dessem licença.”

Tibério fechou a majestosa porta; e as pessoas, que não acreditavam no que os seus olhos viam, entreolhavam-se perplexas e balbuciavam palavras desconexas...

Sisi Marques


O PRÍNCIPE, O TIGRE E A PRINCESA

O príncipe Estevão possuía uma floresta no interior de seu reino, onde a caça era proibida, e os animais viviam livres e seguros.  Certa vez, ele estava caminhando pela floresta, e foi seguido por um tigre gigantesco.  Apesar do porte altivo e ameaçador do felino, o jovem príncipe percebeu que ele era manso, e os dois tornaram-se amigos. Com o passar do tempo, o tigre passou a viver no palácio. Coincidência ou não, o tigre desapareceu no dia em que a princesa Joseni foi visitá-lo. 

A princesa possuía muitos escravos. E um dos escravos da princesa tornou-se o centro das atenções do príncipe Estevão. Ele tinha a certeza de já ter visto aquele rosto... A doçura no olhar do escravo lhe trazia à lembrança as feições do seu amigo tigre. Estevão ouvira muitas histórias sobre a princesa, mas, na época, recusou-se a crer que tivessem um fundo de verdade. Ele começou a se perguntar se ela seria mesmo uma feiticeira capaz de transformar animais selvagens em seres humanos, para servi-la.

O amor que a princesa fizera despertar no coração do príncipe, pouco a pouco, foi murchando, e ele jurou a si mesmo que, custasse o que custasse, ele encontraria um modo de trazer o seu amigo de volta. O escravo, que ele poderia jurar que era o tigre, parecia não se lembrar de nada e se mantinha submisso às ordens da princesa. O príncipe demonstrou interesse em comprá-lo, e eis aqui o que a princesa respondeu: “Vender o meu escravo, não posso vendê-lo, mas, se você aceitar casar-se comigo, ele também será seu.”

Estevão não poderia casar-se com Joseni, porque temia que ela enfeitiçasse também os outros animais que moravam na floresta. Ele arriscou tudo quando disse: “Não sou um homem de meias palavras... Devolva o meu tigre, e vá embora!...” A princesa murmurou: “Eu não compreendi...”

O príncipe percebeu a inutilidade de esperar que a princesa confessasse o seu crime. Ele pensou por alguns instantes, e acabou tendo uma ideia. Disse: “Eu amo você, mesmo sabendo que você transforma animais selvagens em escravos. Eu me preocupo com o tigre, porque ele tem uma doença rara e contagiosa. Se ele não for tratado, ficará debilitado e envelhecerá precocemente.”

Estevão fixou o olhar no rosto da princesa, para verificar o efeito de suas palavras, e surpreendeu-se quando a ouviu dizer: “Que monstro você é!... Não me assemelho a você. Saiba que ouvi relatos comprometedores a seu respeito. Eu nunca tive a intenção de me casar com você. Faço parte de uma organização que tem por finalidade proteger os animais, e eu estava determinada a impedir que você continuasse usando a floresta para jogos de caça. Eu partirei. E você terá que se entender com pessoas influentes que não têm tanta paciência e tolerância quanto eu.”

O príncipe preferiu calar-se a rebater as acusações sem fundamento. À noite, ele perdeu o sono. Desejava que a princesa partisse logo pela manhã. Ele não acreditava que pudesse tornar a rever o seu amigo. Arrependeu-se de ter inventado aquela história toda sobre ele estar doente. Temia que a princesa o matasse com receio de que a doença contaminasse os outros escravos. Estevão alarmou-se com o pensamento de que os outros escravos também pudessem ser animais.

Quando o príncipe adormeceu, o dia já havia clareado. Mas ele acordou revigorado e satisfeito, porque foi despertado pelo amigo tigre, lambendo o seu rosto. Ele nunca mais ouviu falar da princesa Joseni, e viveu feliz desde então.

Sisi Marques


O REINO DAS MAGNÓLIAS E AS CRIANÇAS SÁBIAS

O Reino das Magnólias era muito diferente dos reinos que já existiram. O próprio nome já intrigava os visitantes, porque não havia magnólias no reino. A preocupação maior dos habitantes era proteger os olhos do jacaré sagrado, que se assemelhavam a duas esmeraldas. Para ser mais exato, os olhos do jacaré eram duas esmeraldas, que despertavam a cobiça dos visitantes.

Ninguém no reino ousaria roubá-los, porque acreditavam em uma antiga lenda que dizia: “Quando os olhos do jacaré sagrado forem roubados, o reino ficará na mais completa escuridão, e apenas as crianças sábias conseguirão trazer a luz de volta.”

Certo dia, porém, o pior aconteceu: um homem inescrupuloso roubou as duas esmeraldas. O jacaré abaixou as pálpebras, e a noite durou dias... E teria sido eterna se duas irmãs não tivessem procurado o conselho de sábios para dizer: “A cura para o jacaré está no nome do reino: as magnólias deverão substituir os olhos do jacaré.”

Um dos conselheiros disse: "Talvez sejam vocês as crianças sábias. O problema é que não há uma única magnólia em todo o reino, e precisaríamos de duas.” Uma das garotas respondeu: “Nosso pai, sempre que retorna de suas viagens, nos traz presentes. Certa vez, ele nos trouxe um vaso de magnólias, e nós as plantamos em nosso jardim.”

Como as garotas sugeriram, a substituição foi feita. E, para a surpresa de todos, as duas magnólias transformaram-se em duas esmeraldas belíssimas. A luz voltou ao reino, e os habitantes ficaram tão felizes que proclamaram as duas irmãs “princesas”. Apenas quem não ficou feliz foi o homem que havia roubado as esmeraldas porque, no momento em que ele estava para receber o dinheiro pela venda, elas se transformaram em duas magnólias murchas e secas.

Sisi Marques